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Entrevista com Dave Matthews

de Elena Pizzetti

15 minutos com Dave Matthews. Antes, durante e depois da entrevista.

Milão, 22 de fevereiro - Estou em um taxi indo para o Palasharp, onde a Dave Matthews Band fará o primeiro dos seus 3 shows na Itália. Na minha bolsa, além do ingresso, um gravador e algumas folhas de papel: vou entrevistar Dave Matthews para a revista Buscadero antes do show.
Chego cedo no Palasharp e me encontro com Corsina, juntas começamos a procurar o tour manager.
Está garoando e estou com muito frio só com a leve jaqueta que trouxe para Milão, na esperan&ccdeil;a de que fizesse tempo bom. Um cara sorridente com longos cabelos castanhos enrolados sai do container do catering e nos pergunta se precisamos de alguma coisa. Corsina fala que precisa encontrar G. Ele se oferece para procur´-lo. Ele desaparece dentro do enorme domo cinzento do Palasharp e aparece novamente alguns minutos depois para dizer que o avisou pelo rádio e ele está a caminho. Naquela noite, durante o show de abertura, veríamos nosso gentil ajudante no palco. Ele não era um membro da equipe da DMB e sim Terry Wolfer, baixista de Alberta Cross. Como iríamos saber?
Outra breve e gélida espera e finalmente G. aparece saindo de uma pequena porta. Corsina entra na arena com ele e me separo deles porque em 10 minutos devo me encontrar com representantes da Warner Music da Itália. Chego onde está a assessoria de imprensa e sou levada para dentro do pavilhão junto com os outros jornalistas. Dos camarotes ainda vazios vejo a entrada impetuosa da onda de pessoas do Con-Fusion, que corre em direção à grade em frente ao palco. Um dos jornalistas pergunta "Quem são aquelas pessoas, estrangeiros?". Talvez ele não esperava tamanho entusiasmo dos fãs italianos.
Nos informam que as entrevistas serão no camarim do Dave. Assim que as emissoras de TV terminarem suas entrevistas, será a minha vez. Terei 15 minutos cara a cara com Dave.

Alguém da equipe me leva ao backstage e eu espero 10 minutos em um estreito corredor, de onde consigo escutar o som do saxofone de Jeff Coffin, vindo de trás de alguma das muitas portas fechadas. Carter chega com um enorme sorriso no rosto e um par de headphones enormes. Logo depois Jeff também aparece, com o saxofone pendurado no pescoço; ele dá uma espiada na arena, conversa um pouco com um membro da equipe e depois volta ao seu camarim. Quando ele passa por mim nossos olhares se cruzam e ele me cumprimenta com um 'Hi!' e um sorriso contagiante que me faz sorrir também. A atmosfera está repleta de ótima energia. Uma porta à esquerda se abre e o homem que me acompanha me fala para entrar. Os jornalistas da La7 TV, com todo seu equipamento, saem da sala e eu entro.

Dave está em pé no meio do camarim e a primeira coisa que me surpreende é o quanto ele é grande. Não é somente altura ou impostura, é algo mais: uma emanação intangível faz com que ele pareça ainda maior, como se sua presença se espalhasse por toda a sala, extrapolando os limites físicos. Ele vem na minha direção e me recebe com um sorriso, enquanto seus olhos, mais do que encarar, me analisam completamente, mas não de uma maneira embaraçosa. Um membro da equipe pergunta o nome da revista para a qual trabalho e quando respondo 'Buscadero' ele diz ao Dave 'você estava na capa dessa revista, mês passado'. Eu entrego a ele uma cópia da revista Buscadero de Fevereiro, com as traduções de Benedetta Copeta e Carla Melis. Dave aponta para a foto da capa e comenta que seu cabelo estava horrível naquele dia e nós gargalhamos. Ele pergunta como me chamo e quando respondo "Elena" ele repete "Eléééna?", com ênfase no segundo "e". Eu o corrijo fingindo irritação "Não, Élena!", com a enfase na primeira sílaba. Ele tenta novamente "Eléééna!". Agora é questão de honra "Não, Ééélena!". Finalmente ele pronuncia certo e quando eu o parabenizo com um enfático "Isso!" ele começa a repetir "Ééélena! Ééélena!" com exagerada intensidade, acompanhada de expressividade gestual pantonímica. É sem dúvidas um começo engraçado para a minha entrevista. O que mais eu poderia querer?
Ele senta no sofá; na sua frente, além de uma mesa cheia de folhas de papel, estão 2 cadeiras. Pergunto onde posso sentar ao mesmo tempo que vou na direção de uma das cadeiras. Ele, no entanto, aponta para o sofá e fala "aqui, aqui!". Me sento do lado dele e enquanto coloco o gravador na mesa pergunto como ele está e se está feliz de estar na Itália novamente. Ele está, e muito. Antes de começar eu explico pra ele que, além de ser a repórter da Buscadero, também sou da equipe do Con-Fusion. Ele concorda enquanto sorri "Oh, ótimo!". Eu dou uma olhada nas folhas de papel, estão cheias de desenhos e rabiscos. Ele está fazendo um rascunho do setlist para o show em uma delas. Eu pergunto se ele precisa de um instante ou se podemos começar e ele imediatamente levanta os olhos da folha e exclama "Não, não!! Você pode começar!!" como se eu não devesse nem ter perguntado.

Dave escuta as perguntas enquanto me encara intensamente com uma expressão que parece dizer "o que diabos você está perguntando?". Muito pelo contrário, este é seu típico olhar de profunda concentração. Quando pergunto sobre os filmes e seriados nos quais ele atuou ele de repente levanta uma sobrancelha, ent6atilde;o eu paro por um instante com um olhar inquisitivo para entender se eu tinha dito algo errado. Ele percebe que está com uma expressão ambigua então ele abaixa a sobrancelha e relaxa, me encorajando a continuar.
No final de cada pergunta, seu silêncio magnético se transforma em uma enxurrada de palavras, acompanhada de muita gesticulação. Ele responde com um entusiasmo e energia que revelam toda sua seriedade e gentileza. De vez em quando ele para para pensar, tentando encontrar as palavras certas: momentos de suspense nos quais seu olhar parece perdido e eu quase prendo a respiração para não atrapalhar sua concentração com qualquer barulhinho. Algumas vezes ele rabisca num pedaço de papel antes de responder, até a palavra chave da sua resposta aparecer através da caneta.
Eu tenho uma caneta na minha bolsa, mas eu não tomo notas: o gravador será o suficiente e eu não quero estragar o clima, que está no meio do caminho entre uma entrevista e uma longa conversa. Pareceria errado fitar uma folha de papel enquanto ele fala comigo. Além disso, depois de conseguir essa entrevista cara a cara, o mínimo que posso fazer é olhar para o rosto dele! Estar naquele sofá parece a coisa mais normal do mundo, como se já tivéssemos nos encontrado muitas vezes antes.
No artigo só vou escrever suas respostas, mas durante suas respostas e entre as perguntas acontecem muitas trocas entre nós. Quando falamos sobre a arte gráfica do Big Whiskey não posso evitar de parabenizá-lo pela obra prima. Quando ele fala sobre LeRoi eu relembro a magnífica citação do documentário de Sam Erickson no qual se fala que quando ele tocava dava a impressão de estar em outro lugar, e a partir daí Dave começa sua linda comparação entre Roi e Jeff. Assim que menciono "Lucca" ele imediatamente demonstra seu entusiasmo. ele nem me deixa terminar a pergunta e começa a lembrar daquela "noite incrível". Eu conto pra ele que aquele foi o show mais longo da história da banda e ele fica atento e impressionado, porque ele não sabia disso. Nas entrevistas seguintes, para o site Rockol e a Rádio Due por exemplo, ele mesmo falará isso para os entrevistadores, ao responder à esperada pergunta sobre aquele show épico.
O tempo voa e quando me avisam que tenho só mais 2 minutos, ainda tenho muitas perguntas que gostaria de fazer a Dave. Escolho 3 delas, uma que o editor da revista pediu e 2 sobre assuntos diferentes, para manter a variedade que tentei criar ao preparar a entrevista, mesmo com um número menor de perguntas do que esperava fazer. A gentileza de Dave não tem limites: ao olhar para a folha de papel com as perguntas que faltaram ele se desculpa pelas longas respostas que deu. No final da entrevista ele se levanta para me agradecer e dizer que tinha sido um prazer enorme me conhecer. Exatamente o contrário do que eu esperaria que acontecesse.
Eu pergunto se posso tirar algumas fotos para a revista. Apesar do meu tempo ter acabado e ter gente da equipe entrando na sala para preparar a próxima entrevista, eles são muito prestativos e me dão mais alguns minutos. Eu tiro algumas fotos dele sozinho e uma comigo e saio rapidamente.

Sentada dentro da arena eu penso na entrevista, nos 10 membros do Con-Fusion que estão participando do Meet & Greet com Dave, nos muitos outros que terão a oportunidade de conhecê-lo, cumprimentá-lo, presenteá-lo com sua própria arte e presentes, vê-lo tocar de perto. Os próximos dias são repletos de lembranças do show de Milão, mas também cheio de comentários de amigos que foram aos shows de Roma e de Pádova, um melhor que o outro. O que eu posso fazer? Simplesmente voar até Londres no dia 6 de març.

Consigo organizar minha viagem a Londres em poucos dias e na manhã de sábado estou no aeroporto de Luton, onde sou sequestrada pela Corsina, que me coloca num taxi roxo que nos leva até Londres. O motorista, um indiano com um sotaque impossível de entender, insiste em nos mostrar onde fica a loja Harrods.
Depois de encontrar nossos amigos italianos vamos para o O2 Arena, onde recebemos backstage passes. Além dos passes para Corsina e Benedetta, há também um para mim, se eu tiver sorte vou encontrar Dave novamente. Entramos no backstage, onde Corsina cumprimenta J. e explica que gostaria de me apresentar ao tour manager. Estamos esperando G. quando vejo pelo canto do olho uma silhueta inconfundível saindo pela porta: Dave, um pouco cansado e sonolento. Ele me reconhece, o que eu não esperava apesar de só terem se passado alguns dias desde o show em Milão. Ele pergunta como estamos, cumprimenta Benedetta e eu com um beijo na buchecha enquanto Corsina desaparece em seu abraço. Fico feliz de encontrá-lo em uma situação mais informal que em Milão: ali, apesar da atmosfera não ter sido tensa, estávamos nos papéis de entrevistador e entrevistado. Aqui, somos só Ééélena e Dave.
Corsina lhe dá de presente uma cópia do último disco de Peter Gabriel, Scratch My Back, e perguntamos porque ele não participou do projeto, já que Peter Gabriel queria entrar em contato com ele. Ele responde um pouco surpreso que não sabia de nada sobre isso. Nós fazemos algumas brincadeiras, dizemos que talvez Peter esqueceu de ligar para ele e eu pergunto a Dave se sua secretária eletrônica está funcionando direito. Ele sorri e responde que sim, enquanto J. cai na gargalhada. Um pouco desorientado Dave pergunta "então, eu não estou nesse CD, certo?", "não...", "ok".
Nos despedimos e desistimos de encontrar com G. Enquanto estamos voltando pelo longo corredor Tim Reynolds passa por nós e, em um gesto cavalheiresco, segura a porta para nós e nos convida a passar primeiro. Em seguida pergunta com um sorriso "Como estamos hoje?". No pouco tempo que passei no backstage de Milão e Londres tudo que lembro de todos que conheci é uma sensação de gentileza, simpatia e relaxamento. Enquanto estamos saindo eu penso quão engraçado é que no fim das contas não conseguimos encontrar G., mas sem querer encontramos Dave e Tim.
Voltamos para a arena e Benedetta e eu vamos diretamente para a primeira fileira. Ao nosso redor está um grupo diverso de fas do Canadá, Alemanha e Inglaterra. Quando eles vêem os backstage passes pendurados nos nossos pescoços perguntam como os conseguimos e escutar com atenção quando explicamos sobre o Con-Fusion e todas as ações e iniciativas que organizamos graças ao trabalho inestimável da nossa equipe. Corsina aparece de um lado do palco. Ela quer nos apresentar Rodrigo Simas, o webmaster e fundador da DMBrasil. Infelizmente não podemos conversar muito, mas o breve encontro é suficiente para confirmar a impressão da pessoa maravilhosa que ele é.

Um pouco depois, a alguns metros dos nossos narizes, Dave e seus companheiros tocam o melhor show da DMB que eu já presenciei. Antes do show eu pensei em ir para Manchester no dia seguinte; no final da noite, no táxi em direção à Victoria Station, não sinto mais essa necessidade. Existem shows bons, aqueles que te deixam com a sensação de ainda querer mais. E existem eventos únicos, que te deixam satisfeitos para o ano todo. Na minha cabeça, no entanto, não consigo parar de pensar a mesma coisa que todos a minha volta se perguntam: quando eles estarão de volta?

Entrevista

22 de fevereiro de 2010 - Fazem 8 meses que o disco Big Whiskey and the GrooGrux King tinha sido lançado e 7 meses desde o épico show em Lucca, imortalizado no box Europe 2009. A Dave Matthews Band está de volta à Itália, pronta para soltar seu rico caledoscópico de sons nos palcos de Milão, Roma e Padova.
Encontrei com Dave Matthews antes do show no PalaSharp em Milão para conversar sobre o último disco, a morte do saxofonista LeRoi Moore, a renovada sinergia da banda e seus variados interesses. Sua conhecida atitude "anti estrela" fica comprovada imediatamente: ele me recebe no camarim como se fosse meu vizinho e repete meu nome 3 vezes até orgulhosamente acertar a pronúncia, com ênfase no "e" certo. Dou a ele uma cópia da revista Buscadero de fevereiro e ele aponta para a foto da capa rindo "meu cabelo estava terrível naquele dia!". Pergunto se ele está feliz de estar na Itália novamente e ele responde com um enfático "sim!"; sem dúvidas é verdade. Sua mesa está coberta de papéis com listas de músicas, rascunhos e desenhos. Sua caneta fará inúmeros rabiscos durante a entrevista. Ele adiciona algumas músicas ao setlist e então começamos. Suas respostas variam de intensos fluxos de idéias e palavras a longos e pensativas pausas nas quais ele fita o teto procurando pelas palavras para se expressar. Como música de fundo, o saxofone de Jeff Coffin, que está ensaiando na sala ao lado.

Comparado a Everyday e Stand Up, Big Whiskey tem um som e um clima que lembra seus primeiros 3 discos. Vocês trabalharam nele em um momento muito difícil, mas conseguiram encontrar uma sinergia incrível. Você acha que foi uma espécie de renascimento da banda?
Sim, com certeza foi um renascimento. Passamos por alguns anos difíceis, mas acho que isso é normal quando se trabalha junto. Everyday foi meio que eu trabalhando com um produtor. Stand Up foi todos nós trabalhando juntos com um produtor mas não com a mesma unidade dos primeiros discos. No primeiro e no segundo (Under The Table And Dreaming e Crash) estávamos ansiosos/ávidos. No terceiro (Before These Crowded Streets) foi difícil, tivemos que brigar uns com os outros para terminar as gravações. Trabalhar juntos no próximo foi impossível, então deixamos isso de lado e tentamos mudar completamente. Eu gosto de Everyday e gosto de Stand Up, mas s6atilde;o discos muito diferentes. Enquanto trabalhávamos no Big Whiskey passamos por uma profunda redescoberta de cada um. A banda havia quase terminado então ou acabávamos ou nos uníamos. Acho que esse disco é o resultado disso, de nos unirmos novamente. Não é somente uma volta, o retorno a algo. Ele meio que segue um caminho a partir daqueles 3 primeiros discos. Somos todos nós. Eu trabalhei duro nesse disco e também esperei isso dos outros.

A importância desse disco também é evidente na arte da capa e de todo o disco, que você desenhou e pintou inteira. Você também desenhou a capa do disco de Danny Barnes, Pizza Box. Voc6ecirc; fará isso novamente no futuro?
Sim, talvez, se eu bolar algo bom. Houve muitas coisas boas nesse disco, houve muitas coisas ruins também, mas tudo deu certo no final. Eu tinha visto algumas idéias para a capa e tinha detestado todas, ent6atilde;o eu disse "eu faço!". Também conversei com Rob Cavallo (produtor do disco) e ele disse "sempre vejo você rabiscando coisas, você devia fazer a capa'. Ent6atilde;o tudo meio que funcionou. Primeiro achei um rosto. Não era minha intenção que se parecesse com o LeRoi mas ficou parecido com ele. O nome também... todas essas coisas se encaixaram de uma forma que pode parecer sincronizada, mas acho que foi só sorte.

O disco começa e termina com LeRoi tocando saxofone. O documentário The Road To Big Whiskey, de Sam Erickson, mostra outras gravações inéditas dele. Vocês vão incluir faixas parecidas nos próximos discos?
Não sei. Esse pode ser um bom caminho, uma ligação que poderíamos fazer entre esse disco e o próximo. Teria que ser natural, não forçado. Fizemos músicas tão boas com o Roi. Gostaria de encontrar mais inspiração nas gravações dele nos próximos anos. Não sou contra a idéia, mas não é um plano certo.

O que LeRoi tinha que você sabe que nunca vai encontrar em outra pessoa? E o que Jeff Coffin trouxe para o som da banda?
Não imaginávamos que LeRoi ia morrer quando Jeff Coffin se juntou a nós. Pretendíamos trabalhar com Jeff por um tempo. Quando Roi morreu - fizemos um show naquela noite - parecia natural que se o Jeff estava disponível ele terminasse o trabalho conosco. Simplesmente aconteceu dessa maneira. De maneira nenhuma poderíamos substituir a voz do Roi porque ela era única. Ele era muito difícil mas também muito mágico. Jeff é uma pessoa completamente diferente. A única coisa que eles tem em comum é o saxofone. Além disso, a maneira deles tocarem é oposta. Roi era muito introspectivo, ele olhava para dentro de si e o saxofone era a maneira dele dizer isso. Jeff é muito aberto, olha para fora e então é como se eles tocassem instrumentos diferentes.

Há alguns dias Steve Lillywhite (produtor da DMB de 1994 a 2000) declarou que adoraria trabalhar com vocês novamente. Há alguma chance disso acontecer?
Com certeza! Não sabia que ele tinha dito isso, mas sei que Coran (Capshaw, manager/empresário da DMB) mantém contato com ele. Quando paramos de trabalhar juntos simplesmente não era um bom momento para nós, mas passei alguns dos melhores momentos da minha vida com ele. Acho que seria muito divertido trabalhar com ele de novo. Vamos ver se dá certo. Eu adorei trabalhar com Rob Cavallo também, ele gosta de fazer um barulho alegre também. Talvez possamos fazer os dois.

Vocês tem muitas músicas nunca lançadas em versão estúdio. A edição deluxe do disco Supernatural do Santana tem a música Rain Down On Me, escrita por você e por Carter Beauford. Ao vivo vocês tocam músicas como Sister e Shotgun. Você já pensou em lançar um box com essas sobras de estúdio?
Eu tenho uma forma peculiar de encarar a música. Eu só quero seguir em frente e às vezes as pessoas ficam decepcionadas comigo porque eu digo "não quero mais tocar isso". Eu adoro algumas das coisas antigas. Algumas delas continuam comigo e algumas delas somem durante anos e depois voltam. Outras músicas eu simplesmente não gosto mais. É um relacionamento. Meu manager/empresário me fala direto "você devia fazer um disco com todo esse material". Alguns dos caras da banda gostariam muito de fazer isso, acho que o Stefan iria adorar. Aí tenho que achar tempo e acho que eu só quero fazer um disco novo. Mas a idéia de pegar aquelas gravações e fazer um disco de músicas descartadas é boa. Talvez façamos isso de vez em quando.

Você tem uma longa carreira em filmes e seriados. The Other Side, In The Woods e The Pretend Wife com Adam Sandler estão em produção. O que atuar te dá que a múica não dá?
É muito diferente. No caso de trabalhar com Adam Sandler eu gosto porque ele é meu amigo, nos divertimos juntos. Mas algum dia eu gostaria de fazer algo muito bem. Atuar é uma experiência diferente, uma outra forma de se expressar, ê outra válvula de escape. É bom explorar diferentes lados da nossa personalidade seja da forma que for. Eu costumo fazer isso na frente dos outros, seja um ou o outro.

Em uma entrevista no começo dos anos 90 você definiu a música da DMB como "con-fusion", palavra que o fã clube italiano adotou como nome. Se você tivesse que definir sua música em uma única palavra hoje, qual seria essa palavra?
(Antes de responder ele escreve em uma folha as palavras JOY (alegria) e HONEST (sincero) e as contempla por um tempo) Talvez "alegria". Algo entre "alegria" e "sincero". É isso que eu tento, isso que quero ser: quero ser sincero. Mas acho que alegria é o que é contagioso. Nos divertimos muito quando estamos fazendo música. É como correr em uma pista quebrada e ainda assim conseguir se manter indo em frente.

O show do ano passado em Lucca foi o show mais longo da banda...
É mesmo?! Oh..! Aquela foi uma noite muito divertida!

O show também foi escolhido para o box Europe 2009. O que você lembra daquela noite?
É difícil lembrar. Tínhamos nos deixado levar, não estávamos mais muito no controle. Quando é tão especial parece que você não tem que fazer nada. Era natural e era como voar. Eu lembro da praça, da estátua, lembro das pessoas sentadas na estátua e ao redor. Lembro da energia. Tudo era muito favorável, foi uma noite ótima.

A década acabou. Que artistas, na sua opinião, deixaram a marca mais profunda na história da música nos últimos 10 anos?
Essa é difícil. Seria o Radiohead. E talvez Jay Z. Eu fico isolado então não presto muita atenção em nada. Se fosse por mim seria o Danny Barnes. Num mundo justo Danny Barnes seria o cara! Mas há muitas boas, tantas bandas boas, tanta música boa.